domingo, 28 de agosto de 2011

ENCONTROS

             O nosso corpo precisa não só de coisas para comer, precisa de mais. Quem nos diz isso são os textos sagrados que afirmam: "Não só de pão o homem viverá". O pão é pouco, ele precisa também de alegrias e carinhos. Ele transborda as águas que vão subindo, e elas saem dele, como um deserto seco que vira oásis regado. É assim: "Neste corpo tão pequeno, tão efêmero, vive um universo inteiro" (Rubem Alves).
            O corpo não é só fonte que transborda: é colo que acolhe. A mão que segura a outra, o ouvido que ouve o lamento, em silêncio, sem nada dizer... O corpo transborda e fertiliza o mundo e o mundo se transforma... Tão simples, tão belo.
           O corpo fala uma linguagem que desconhecemos e uma delas é o abraço. Há abraços deliciosos que são verdadeiras delicias dos céus. Esses abraços preenchem os espaços dos nossos corações, aqueles espaços que Deus não pode preencher. Um desses espaços é a saudade. "A saudade é flor que só floresce na ausência. É nela que se dizem as orações suplicando dos deuses a graça da repetição da beleza. E é só para que isso que existem os deuses: para garantir o retorno do belo" (Rubem Alves).
Quando acontece o reencontro, experimentamos a felicidade perdida. Nosso corpo se modifica e sentimos coisas que nunca tínhamos sentido antes, é como se os nossos sentimentos que estavam dormindo despertassem do sono em que estavam. Creio que no abraço nós expressamos a nossa interioridade, a nossa intimidade. O abraço revela quem somos, ele nos desnuda, mostra o nosso coração para o outro. É como se disséssemos: "Como meu coração pode ser seu, sem deixar de ser meu?" Através dele os dois corações abrem seus portões e voam um em direção ao outro.
            Com o abraço faço a experiência mais primordial da vida humana: entro em contato com o misterioso e fascinante mundo da outra pessoa. O abraço faz com que ela passe a morar dentro de mim, pois "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", dizia a raposa para o principezinho. Assim, cada abraço é uma comunicação de duas solidões! 


Postulante: Ramires










       
Sou poeta, bufão, palhaço, encantador de palavras, menestrel verbal e pregador de pensamentos vagabundos. Moro na Caixa de Brinquedos da Oficina de Gepeto, onde consigo fazer a experiência mais fundamental: ver e aprender a realidade que a razão séria não atinge. Além disso, o riso e cômico tornam-se os meios em posso fazer brilhar o infinito da existência, que foi banido pela razão como marginal e ridículo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário