sexta-feira, 21 de maio de 2010

I Encontro de Formandos da Procasp

Olá pessoal, Paz e Bem!
Neste final de semana, todos os formandos da Província dos Capuchinhos de São Paulo, vamos para são Sebastião, litoral norte de São Paulo, celebrar nosso primeiro Encontro de Estudantes.
Serão momentos especiais para reflexão acerca da nossa formação, ocasião de confraternização e orações comunitárias...
Acompanhe-nos com o texto que servirá de subsídio para nosso momento de reflexão, já no sábado de manhã. ele vai na integra postado aqui.

I Encontro de Formandos da Procasp – maio de 2010 – São Sebastião - SP


Campanha da Fraternidade 2010: compromisso para a Vida Religiosa (Tomamos como base para nossa reflexão o artigo de Lisaneos Prates. Campanha da Fraternidade 2010: compromisso para a Vida Religiosa. In: Convergência: Revista mensal da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB. Abril 2010 – XLV – Nº 430. pp. 221-239.)

Esta reflexão apóia-se em dois eixos:
- a relação entre a Campanha da Fraternidade (CF) 2010 e Vida Religiosa Consagrada a partir do sentido de compromisso que marca ambos os projetos;
- a proposta da CF-2010 e sua incidência na VRC como compromisso que poderá ser assumido pelas nossas comunidades religiosas.

Proposta da CF 2010:

(1) Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, (2) fundamentada no ideal da cultura da paz, (3) a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, (4) para que todos contribuam na construção do bem comum (5) em vista de uma sociedade sem exclusão.

Eixos temáticos:
“A dádiva da vida e a lógica do mercado” (nn. 21-22. Texto base); “Agradecer é diferente de pagar” (n. 23); “A vida de cada um ligada à vida de todos” (n. 24); “Economia a serviço da vida ou vidas à disposição da economia?” (nn. 25-26). Ênfase dada à ecologia ou holística através da valorização de elementos como o “Valor econômico da água” (nn. 27-33); “Transformação da água em mercadoria” (nn. 34-36); “Planeta Terra, casa de todos” (nn. 38-40); e “Desafios e esperanças” (nn. 41-42), um horizonte aberto a um futuro esperançador e promissor.

Metodologia utilizada do “ver-julgar-agir”:

VER (nn. 43-68) – A vida ameaçada (parábola do Lázaro e o rico)

Apelo a Lázaro (poesia de Dom Hélder Câmara, Texto-Base da CF-2010, n. 46)
Pelo amor que tenho aos ricos
- a quem não devo julgar,
a quem não posso julgar
e que custaram
o sangue de Cristo –
eu te peço, Lázaro,
não fiques nas escadas
e não te deixes enxotar –
irrompe banquete adentro,
vai provocar náuseas
nos saciados convivas.
vai levar-lhes
A face desfigurada de Cristo
De que tanto precisam
Sem saber e sem crer.

A pobreza como condição histórica que é resultante do modelo econômico que organiza a sociedade e a distribuição dos bens “não é uma fatalidade nem o resultado de fenômenos naturais” (n. 47), mas consequência de um processo histórico-econômico desenvolvimentista que favorece os ricos ou potentados economicamente em detrimento da geração de situações de pobreza que avilta e degrada a dignidade humana.

JULGAR (nn. 69-97) – Economia para a vida
O lema proposto é o critério de juízo para discernir as estruturas econômicas que atentam contra a vida do ser humano, a qual já foi vista e afirmada como sendo um valor absoluto em si mesma e que, portanto, não pode ser granjeada por nenhum outro valor, muito menos pelo dinheiro, lucro, materialismo e consumismo.

AGIR (nn. 98-126) – Promover a vida
Compromisso da partilha dos bens, sobretudos daqueles acumulados de forma iníqua. Trata-se do ressarcimento social dos bens que foram retirados dos pobres, por serem eles as vítimas dos esquemas iníquos e perversos de determinados mecanismos econômicos aliados à morte e não à vida.

Vida Religiosa Consagrada e Compromisso com a CF-2010
Olhando historicamente para a gênese e a teologia da Vida Religiosa Consagrada, constatamos que o seu nascimento no coração da Igreja e do mundo teve como um dos seus objetivos recuperar o uso sóbrio e austero dos bens materiais. De modo que, ao longo da história, este objetivo foi sendo configurado naquilo que hoje denominamos teologicamente com sendo um voto ou mesmo um devotamento ao compromisso com uma vida pobre.

Sendo a VRC um serviço a Deus no formato de consagração a ele e, ao mesmo tempo, um serviço ao povo, sobretudo aos mais pobres, a afirmação lemática da CF-2010 “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” pode e deve ser aplicada diretamente às comunidades que se propõem viver o projeto da VRC.

Os grandes monstros da organização Pós-Moderna da sociedade com suas estruturas econômicas, atacam tanto a VRC como toda a vida cristã. No entanto, a radicalidade evangélica da VRC como caminho estreito e desafiante de configuração a Jesus Cristo na mediação do Reino de Deus anunciado e construído na mediação de sua opção pelos pobres, mormente, torna-se uma exigência irreversível para que se possa identificar a veracidade testemunhal de religiosas e religiosos engajados em tal empreitada evangélica.

A humanidade desperta para uma nova existência de solidariedade mundial, que exige uma concepção planetária do bem comum para dar início a outra civilização. Uma pessoa cristã não pode olhar para o mundo e aceitar que continue a vigorar uma política de sobrevivência somente a serviço dos privilegiados pela riqueza. (n. 103).

Há um clima social favorável à projeção de futuro para a humanidade na linha da solidariedade, justiça. Equidade em favor da dignidade humana que enseja a seiva da profecia.

A VRC é chamada a ser uma vida missionária, apaixonada pelo anúncio de Jesus-verdade do Pai, por isso mesmo radicalmente profética, capaz de mostrar à luz de Cristo as sombras do mundo atual e os caminhos de uma vida nova, para o que se requer um profetismo que aspire até à entrega da vida em continuidade com a tradição de santidade e martírio de tantas e tantos consagrados ao longo da história do Continente. E, a serviço do mundo, uma vida apaixonada por Jesus-vida do Pai, que se faz presente nos mais pequeninos e nos últimos, a quem serve a partir do próprio carisma e espiritualidade (Documento de Aparecida, n. 220).

Algumas temáticas comuns entre a Campanha da Fraternidade 2010 e a Vida Religiosa Consagrada

O bem comum
“A atividade econômica não pode resolver todos os problemas sociais através da simples extensão da lógica mercantil. Esta há de ter como finalidade a prossecução do bem comum, do qual se deve ocupar também e sobretudo a comunidade política. Por isso, tenha-se presente que é causa de graves desequilíbrios separar o agir econômico – ao qual competiria apenas produzir riquezas – do agir político, cuja função seria buscar a justiça através da redistribuição.” (Bento XVI, Caritas in Veritate, n. 36).

A pessoa como valor inalienável
Conforme o n. 10 do Texto-base da CF-2010 a “Pessoa”:

- é um ser de relações. Na sua individualidade, é único e irrepetível. Inteligente e com vontade livre. Vulnerável e efêmero, com destino transcendente. Credor de direitos e subordinado a deveres. Dotado de vivência espiritual que o eleva a uma eminente dignidade, que lhe confere um valor de fim em si mesma e não apenas um meio;

- é a base da sociedade e seu elemento fundamental e fonte de toda riqueza criativa;

- é definida pelo seu “desejo” de felicidade, de satisfazer plenamente todas as necessidades que carrega em si. Sua vida será o caminho a ser percorrido para que esta satisfação possa ser alcançada;

- só é tal em sua unidade e só pode ser considerada em toda sua integridade, sendo a origem, o foco e o propósito de toda vida econômica, social e política. Por isso dever ser vista em sua totalidade.

Tal concepção da pessoa colocada no centro de atenção de tudo aquilo que se articula no âmbito da fé cristã pode servir para recordar à nossas fraternidades religiosas que a sua própria constituição como tal deve sempre colocar a pessoa como o cerne de tudo. A VRC nasceu para atender às necessidades, sobretudo dos mais desvalidos, que sofrem os desmandos daqueles que detêm o poder de decidir o ruma da organização sociopolítico-econômica.

Na trilha da irrenunciável opção preferencial pelos pobres
Não é possível prestar um serviço de promoção à dignidade dos pobres sem que o mesmo esteja referenciado ao serviço a Deus e não ao ídolo do dinheiro e da riqueza. Vale dizer, servir aos pobres implica uma primeira decisão, a priori, servir ao Deus da vida. E, por sua vez, deixar-se escravizar pelo ídolo do dinheiro e da riqueza acarreta um desserviço aos empobrecidos. É indubitável que a VRC só pode ser entendida do ponto de vista histórico-teológico e eclesial-pastoral referenciada à radicalidade evangélica e cristológica da opção preferencial pelos pobres, empobrecidos e excluídos da sociedade hodierna. A própria comunhão fraternal, que está no âmago vital das nossas comunidades religiosas, somente ganha um sentido qualitativamente evangélico no seu desdobramento de serviço aos e com os pobres na mediação da caridade libertadora.

Algumas pistas encontras no Documento de Aparecida:

“(...) a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza.” (Discurso Inaugural de Bento XVI na Conferência de Aparecida)

Comprometemo-nos a trabalhar para que a nossa Igreja Latino-americana e Caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio. Hoje queremos ratificar e potencializar a opção preferencial pelos pobres feita nas Conferências anteriores. Que seja preferencial implica que deva atravessar todas as nossas estruturas e prioridades pastorais. (n. 396)

Nesta época, costuma acontecer que defendemos de forma demasiada nossos espaços de privacidade e lazer, e nos deixamos contagiar facilmente pelo consumismo individualista. Por isso, nossa opção pelos pobres corre o risco de ficar em mero plano teórico ou meramente emotivo, sem verdadeira incidência em nossos comportamentos e em nossas decisões. É necessária uma atitude permanente que se manifeste em opções e gestos concretos, e evite toda atitude paternalista. Solicita-se dedicarmos tempo aos pobres, prestar a eles amável atenção, escutá-los com interesse, acompanhá-los nos momentos difíceis, escolhê-los para compartilhar horas, semanas ou anos de nossa vida, e procurando, a partir deles, a transformação de sua situação. (n. 397)

A globalização faz emergir, em nossos povos, novos rostos pobres. Com especial atenção e em continuidade com as Conferências Gerais anteriores, fixamos nosso olhar nos rostos dos novos excluídos: os migrantes, as vitimas de violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e seqüestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vitimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem na rua das grandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultores sem terra e os trabalhadores das minas. A Igreja, com sua Pastoral Social, deve dar acolhida e acompanhar essas pessoal excluídas nas respectivas esferas. (n. 402)

Aguardem mais notícias e detalhes das conclusões de nossas reflexões e compromissos assumidos pelos formandos dos Capuchinhos de São Paulo! até lá!

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