quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sobre palhaços e homens


 Como escrever sobre palhaços? Qualquer coisa que se diga seria absolutamente irrelevante diante dessas figuras tão alternas em nosso tempo. Por isso tudo que escrevo, embora nada signifique para estes, serve para os "outros".
       Quando vemos um palhaço, algo em nós faz lembrar muitas coisas: talvez, um sentimento de alegria e felicidade que deixamos de lado face às atividades de nosso cotidiano; talvez uma lembrança de nossa infância, quando  o termo "preocupação" ainda não fora escrito em nosso dicionário; talvez até mesmo uma inveja por um ser tão bobo que parece não se comprometer com os problemas, mas ri deles. Bem, muitas outras coisas poderiam ser descritas aqui, mas não vêm ao caso.
          Acredito que, quando vemos um palhaço, vemos a nós mesmos ainda crianças ou como poderíamos ter ficado se esquecêssemos que crescemos. Vemos o tempo desperdiçado e, nessa angustiosa pena, nos envergonhamos. Mas quando um palhaço nos olha, algo acontece, algo que não está nos planos de ninguém. Seu olhar é um espelho de nossos desejos e sua concretização, somos redimidos, nossa criança nos perdoa e quer brincar, esquece tudo o que fizemos e nos invade com sua atrevida piedade. Sem defesa, descobrimos que ainda podemos dar um presente muito querido a essa criança, na verdade, é seu alimento e por meio dele fazemos a experiência espiritual mais primordial e simples que um ser humano pode viver, "o sorriso", quando não, "a risada" ou, em casos mais extremos de libertação, a "gargalhada", ou tudo isso junto.
            Brincamos, sorrimos e nos divertimos. Creio que Deus assim também o faz, por isso criou as crianças. Mas elas crescem e se tornam ásperas, preocupadas e briguentas, e foi justamente por isso que, num momento na cadeia da evolução humana, algo entre a "hominização da vida" e a "humanização do homem", Deus introduziu, em algumas pessoas, a capacidade de despertar o mundo para a alegria de estar vivo, ou seja, criou os palhaços.
            São raros os reconhecidos, muito anônimos e outros tantos desprezados pelos surdos que não entendem o grito mudo da alegria dos palhaços, tudo para que se cumpra: "Vendo não vejam e ouvindo não compreendam".
Poderia elencar muitos dos bons: Chaplin, Francisco de Assis, João XXIII, Cascatinha e, por que não, o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, que diante dos homens velhos e carrancudos proclamou uma verdade que abalaria todo o processo da maturação humana: "Deixai vir a mim a criancinhas, por que delas são todas as bolinhas de gude do Reino dos Céus (ou quase isso)! 

        Postulante: Ramires Karamázov, Pregador de pensamentos vagabundos!!!

5 comentários:

  1. Creio que na porta de entrada do céu tenha uma inscrição talhada que diz: “No pequeno tamanho das crianças louvaste o símbolo da humildade, quando dissestes: delas é o Reino dos Céus” (Santo Agostinho). As crianças são o "sim" da vida e o eterno retorno!!!

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  2. Olá, Ramires!
    Paz e Bem!!

    Amei seu texto!!
    Se soubéssemos ser adultos, não permitiríamos morrer a criança que, um dia, fomos; pois é justamente ela que nos mantém o equilíbrio da maturidade saudável. No lúdico, podemos compreender e trabalhar o real.
    Eis o segredo da vida: rir de si mesmo e dos próprios problemas; isso é o que nos ensinam os palhaços. E é o que fazem as crianças quando se sujam ou quando, sem mais nem menos, cai uma gostosa chuva no meio da brincadeira.
    Infelizmente, a pressa do mundo adulto (perdido em si mesmo) é tão grande que nem mais as próprias crianças estão tendo direito de ser criança... Não se brinca mais de bolinha de gude, de casinha, de pular corda, de amarelinha, de jogar bola na rua; não se sobe mais em árvore para comer uma fruta.
    O mundo, hoje, grita que, desde a mais tenra idade, já se incentive a habilidade com o mundo virtual... Em contrapartida, ninguém pratica mais o amor contido num beijo ou num abraço, princípio das relações afetivas.
    Chaplin, brincando de falar sério, já discorria sobre o homem máquina...
    Que pena!!

    Abraço fraterno,
    Ariane Zoby

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  3. Tudo bem que vc chamou ate Jesus de palhaço!!! Mas entendi a seriedade do conteudo que vc colocou. O ludico, as vezes nos escondemos atras de mascaras de seriedade de cargos, ou de funcoes que devemos realizar e esquecemos de viver bem, na espontaneidade e deixamos de lado o que realmente importa desperta essa criança inteior. Obrigado pela sua reflexao....

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  4. Parabéns pelo texto irmão. Você foi presenteado com o dom de chegar até os corações dos homens através das palavras.Espero que a alegria dos palhaços toquem o seu coração também...

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  5. Parabens Ramires. Concordo plenamente com seu raciocínio! Vc escreve mto bem, estou surpresa. Vc sempre me surpreende. Beijos

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