terça-feira, 16 de março de 2010

A Vocação na Bíblia

Quando falamos de vocação, logo fazemos associação com a idéia de profissão. Na verdade, podem as duas idéias se complementam.
Profissão tem a ver com ofício, com o realizar algo, sobretudo para garantir a manutenção econômica de uma pessoa ou família. Porém isso não significa que alguém seja um profissional apenas pela necessidade financeira. É preciso, portanto, ter aptidões para se exercer uma atividade e, principalmente, amar o que se faz.
Já o termo vocação, que tem origem latina no verbo vocare (chamar, em português), está intimamente relacionado com a experiência religiosa humana e, de modo especial, no âmbito judaico-cristão.
E quem nos confirma isso é a Sagrada Escritura, na qual vocação se entende por um chamado que Deus faz a alguém -- e até mesmo a um povo -- para dar sua contribuição peculiar na história da salvação.
Assim, quando Deus “sonha” conosco, ele nos chama à vida para que façamos experiência de seu amor e de seus mistérios. E isso se realiza de modo concreto e pessoal, porque toda vocação é uma história singular, aos olhos do Criador, daquilo que cada um é em sua essência e de tudo o que constrói também em comunhão com o outro à luz da palavra do Senhor, que é a manifestação de Deus, além de nos tocar e requerer que façamos uma opção clara e objetiva por ele.
Toda a história bíblica está repleta de testemunhos vocacionais para nós a fim de que sejamos de fato fraternos e tornemo-nos verdadeiramente filhos de Deus.
Dentre vários, agora podemos elencar, então, alguns deles:
1. Abraão e Sara: é um casal vocacionado a construir um povo (cf. Gn 12,1-9) a partir de sua identidade. Sua vocação está voltada para uma nação, uma terra, e exige uma postura de profunda confiança em Deus;
2. Moisés: ainda bebê, foi salvo das águas para servir a Deus como libertador do povo hebreu (cf. Êx 3,1-11) e também levar até ele a palavra de Javé;
3. Samuel: foi vocacionado para que fosse mediador entre Deus e o povo (cf. 1Sm 3,1-19) pela prática da justiça e da oração;
4. Jeremias: foi alguém com muito medo, mas soube responder ao chamado de Deus (cf. Jr 1,4-10) com consciência do que deveria realizar (cf. Jr 1,17-19);
5. João Batista: a ele coube a missão de anunciar a vinda do Messias (cf. Lc 1,5-22), pois havia séculos que a “figura” do profeta desaparecera em Israel, e muitos acorriam a ele (cf. Mt 3,5);
6. Maria: com vocação para ser Mãe de Deus (cf. Lc 1,26-38), ela confiou e aceitou a missão sem compreender o propósito de Deus;
7. Jesus: em poucas palavras, dizemos que ele é a síntese da vocação profética, ou melhor, é o “Ungido do Senhor” (cf. Jo 1,35-39; Lc 6,12-16; Mc 1,17-20);
8. Os Apóstolos: tinham por vocação pregar os ensinamentos de Jesus e de serem “pescadores de homens”, com o compromisso de adesão pessoal ao Mestre.
Assim, concluímos que a vocação é a resposta do ser humano que tem fé ao Pai de misericórdia, pois “nós cremos no amor de Deus” (Deus Caritas Est n.° 1), o qual nos chamou à existência e nos constituiu seus colaboradores na obra da criação.

Frei Marcos Roberto Rocha de Carvalho, OFMCap

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