quinta-feira, 18 de março de 2010

Uma voz que grita, seu sangue é nossa bebida

São Romero da América, Pastor e Mártir”

“Se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho”

Vou arriscar-me a escrever algumas linhas sobre o nosso São Romero da América, não sei se conseguirei, pois se trata de uma singular grandeza a vida desse bispo, profeta e mártir de nosso povo, de nossa alma.

Estamos celebrando nesse mês o Jubileu de seu martírio. Dias antes de ser assassinado enquanto erguia o cálice com o sangue do Mártir Maior, Jesus Cristo, d. Romero sentenciava: “O martírio é uma graça de Deus que não creio merecer, porém, se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue, então, seja semente de liberdade e sinal de que a esperança será logo uma realidade”.

Desde as comunidades primitivas, o sangue dos mártires são sementes de liberdade que atualizam a paixão de Cristo. Os mártires trazem a palma da vitória na mão e nos oferecem o sangue no cálice de que todos nós devemos beber.

Lembrar de nossos mártires é lembrar o perfume que emana de sua profecia. O Reino está entre nós. Ser mártir por causa do Reino é uma graça que poucos mereceram. A memória do martírio é uma memória subversiva já nos lembra o bispo de São Felix do Araguaia.

Apesar das contradições de nossa história, d. Romero segue ressuscitando a vida de seu povo - de nosso povo - Latino Americano. No início de seu ministério episcopal, d. Romero assume uma linha conservadora de pastoral. Após sua nomeação de Arcebispo de El Salvador nosso mártir inicia seu processo de “conversão”. Passa categoricamente a defender os pobres, num diálogo ecumênico e universal.

“Tudo é graça, tudo é Páscoa”. Jubileu é tempo de renovação, de buscarmos o espírito crítico, criativo e cuidador como nos aponta Leonardo Boff. Jubileu é momento impar de renovação. Precisamos acender a lâmpada de nossa esperança.

Em nosso país estamos vivendo a Campanha da Fraternidade, que nesse ano é Ecumênica. Lembramo-nos a palavra ardente de Jesus: “vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. São Romero nos aponta a uma santidade tão mística quanto política. Precisamos vencer essa “gangue monstruosa que é o capitalismo neoliberal”, e servirmos a Deus no próximo. Só assim, então, poderemos construir o “outro mundo possível”, onde a economia está a serviço da vida.

Num dado momento de sua entrega d. Romero não fora compreendido pelos seus irmãos de “báculo e de mesa”. Será que alguma sinagoga bem montada e estruturada pode compreender o Cristo? Não sei. O que sei é que d. Romero se manteve fiel no seguimento de Jesus, Reino adentro. Seu sangue é semente de vida a brotar em nossa vida de paixão e morte. Morte e Ressurreição no Reino futuro.

Quero terminar essa memória, lembrando uma poesia feita pelo nosso querido irmão d. Pedro Casaldáliga que com o irmão Parkinson louva e agradece a Deus pela vida de São Oscar da America Latina:

“Estamos outra vez em pé de testemunho,
São Romero de América, pastor e mártir nosso!
Romero de uma paz quase impossível nesta terra em guerra.
Romero em flor morada da esperança incólume de todo o Continente.
Romero da Páscoa latino-americana.
Pobre pastor glorioso, assassinado a soldo, a dólar, a divisa
O Povo te fez santo.
A hora do teu Povo te consagrou no kairós.
Os pobres te ensinaram a ler o Evangelho.
São Romero de América, pastor e mártir nosso:
ninguém há de calar tua última homilia”! Amém.

Leandro Longo, postulante capuchinho - Piracibaba - SP






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